terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Dieese comemora 59 anos de luta pelos direitos do trabalhador

Foto: Divulgação 
No último dia 22 de dezembro, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) completou 59 anos de fundação e de dedicação à assessoria técnica volta aos trabalhadores, desenvolvimento de atividades de pesquisa e educação nos temas relacionados ao mundo do trabalho.

Com a Rede Estadual de Educação Profissional, o DIEESE tem uma importante parceria estabelecida desde 2009. Ao longo destes anos, uma série de ações vem sendo realizadas para celebrar a consolidação da Educação Profissional da Bahia como política pública de Estado, a exemplo, da realização do curso de especialização em Trabalho, Educação e Desenvolvimento para Gestão em Educação Profissional com aulas ministradas pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB).


Almerico Lima, superintendente de Educação Profissional, destaca a importância da instituição. “O DIEESE é uma entidade nascida como instrumento técnico do movimento sindical para produzir estudos sobre a situação dos trabalhadores. Mas na luta social, o técnico não é neutro, mas forjado no compromisso com a emancipação dos oprimidos. Por isso, durante a ditadura militar o DIEESE significou resistência e na democracia significa contraponto ao pensamento dominante e ao discurso "competente". Para mim, enquanto sujeito, o DIEESE é sinônimo de formação diante dos cursos que participei na década de 80. Certamente me inspirou a construir processo formativos com e para os trabalhadores e trabalhadoras, inicialmente no Âmbito do sindicato/central sindical e depois nas políticas públicas. A contribuição do DIEESE para a formação profissional se revelou no Ministério do Trabalho e transbordou para a Bahia. Longa vida a o DIEESE!”

A data foi celebrada pela entidade com o texto “Salvadores e leninas há 59 anos constroem o Dieese - 22 de dezembro de 1955”, assinado por Clemente Ganz Lúcio, Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social - CDES. No artigo, Clemente faz uma retomada histórica apontando momentos marcantes de sua fundação. “Observou-se no ano de 1955 uma das piores ondas de frio na história do Brasil. Entretanto, na política, o clima era quente, com muitas mudanças desde o suicídio de Vargas, ocorrido no ano anterior”.

Clemente também destaca a presença marcante do Dieese na história de luta do povo brasileiro. “O tempo passou, levado também pelo vento das lutas. As notícias da atual arena repetem manchetes. Hoje, como dantes, sintonizados com o presente e coetâneos com os desafios de futuro, quando o DIEESE completa 59 anos, rendemos nossa homenagem aos milhares de tenorinhos, leninas, salvadores e mônicas, que construíram com seu trabalho militante e compromisso com a justiça e solidariedade, uma instituição a serviço da classe trabalhadora!”

Leia texto na íntegra.  

Salvadores e leninas há 59 anos constroem o Dieese
22 de dezembro de 1955

Clemente Ganz Lúcio[1]

Observou-se no ano de 1955 uma das piores ondas de frio na história do Brasil. Entretanto, na política, o clima era quente, com muitas mudanças desde o suicídio de Vargas, ocorrido no ano anterior. Café Filho assumira a presidência e o país enfrentava problemas com a inflação e o déficit na balança comercial. Juscelino Kubitschek (JK) lançara-se candidato à presidência pelo PSD. A UDN e os militares articulavam chapa com Juarez Távora, ex-tenentista. PTB, partido de Getúlio, constrói naquele ano uma aliança com PSD e lançam chapa JK/Jango para concorrer às eleições presidenciais. Com apoio do eleitorado paulista Ademar de Barros corre por fora.

Em outubro JK vence as eleições com diferença de 6% dos votos, campanha baseada no desenvolvimentismo e na modernização da indústria nacional. Carlos Lacerda, apoiado por militares e parte da grande imprensa, tenta desqualificar e desarticular a vitória de JK com uma falsa carta que, segundo ele, provaria a intenção de Jango em estabelecer um regime sindicalista, inclusive oferecendo armas aos operários.

Em São Paulo o Pacto de Unidade Intersindical (PUI) ganha cada vez mais corpo e amplia-se, fortalecendo a unidade das categorias e formando a base de grandes mobilizações, lutas e de greves históricas.

Em novembro, após as eleições, o presidente Café Filho se afasta por problemas cardíacos. Carlos Luz, presidente da Câmara, assume e indica novo Ministro da Guerra, no lugar do marechal Lott. Prenuncia-se um golpe. Lott e militares legalistas denunciam manobra e afirmam resistir. Café Filho tem súbita recuperação! Lott desconfia da manobra e entrega a presidência em 11 de novembro a Nereu Ramos, catarinense e presidente do Senado que, em 31 de janeiro de 1956, transmite o cargo à JK.

Em dezembro o clima político ferve com manobras e movimentos nos bastidores da arena política da capital federal, Rio de Janeiro. Em São Paulo os operários se movimentam agitados. O país estava em estado de sítio.

Imagino aquele dia, uma quinta-feira, 22 de dezembro de 1955, e como os fatos podem ter ocorrido: “Tenorinho do Laticínio”, como era conhecido esse pernambucano nascido em 1923, levanta cedo e, depois do gole de café, sai para o Sindicato, dizendo que chegaria tarde, pois teria uma assembleia à noite. Pede para a esposa entregar um envelope ao Prestes, seu padrinho de casamento. Desce do bonde e compra a Folha da Manhã do jornaleiro. Sim! O Corinthians tinha vencido o Linense por 2X1. Na primeira página dois destaques chamam sua atenção: “O estado de sítio é debatido na Câmara dos Deputados” e “Adenauer declara serem vãs os esperanças soviéticas de conquista do mundo inteiro”. Folheia o jornal e bate o olho: “A recente declaração do prefeito municipal, Ademar de Barros, de que autoriza a colocação de mais bancos na Praça da República, traz à baila velho problema: São Paulo é uma cidade com poucos bancos em suas praças públicas e avenidas”. Dobra o jornal e acelera o passo. Sente que o dia seria longo.

Já na sede do sindicato, assina alguns documentos e avisa que vai se encontrar com Salvador Lossaco, presidente do Sindicato dos Bancários, para verificarem os últimos detalhes para a assembleia da noite que teria lugar, às 20:30 horas, na rua São Bento, 405. À noite Lossaco preside a assembleia que Tenorinho secretaria.

Mais de cinquenta anos depois, em depoimento, Tenorinho lembraria:

“O DIEESE passou por todo um sistema de preparação. Ele não surgiu de um estalo, não, ele foi fruto de todo um acúmulo de aprendizagem. Então, nós fizemos o Pacto de Unidade Intersindical, que começou com cinco sindicatos: gráficos, metalúrgicos, marceneiros, têxteis e vidreiros. Ali na rua dos Cerealistas. Então, naquela rua era uma casa baixa de um sócio, onde funcionava o sindicato, que se transformou em sede e dali nós começamos a “mandar brasa” em tudo. E todas as nossas lutas sindicais durante esse período, as lutas reivindicatórias, elas encontravam a barreira de como provar que era aquela percentagem que os trabalhadores reivindicavam, não tinha como, não tinha um aferidor. O único em que a Justiça se baseava – aí vamos chegar no DIEESE – era uma comissão do Ministério do Trabalho, a qual não tinha a nossa presença nem participação, e a Secretaria de Abastecimento de São Paulo, comandada por Ademar de Barros e o Secretário era o João Acioli, até um advogado do Sindicato dos Têxteis.

Então esses dois dados nunca conferiam com aquilo que a gente achava que era o custo de vida e nós nos batíamos, e só levávamos alguma vantagem quando fazíamos greves enfrentando polícia, enfrentando todas as dificuldades para fazer uma greve como fizemos em 1953, a chamada “Greve de 700 mil trabalhadores”. Então surgiu a ideia da gente criar o nosso próprio organismo de levantamento de custo de vida. Aí eu, como secretário do Pacto; Salvador Romano Lossaco, presidente do Sindicato dos Bancários – aqui eu rendo a minha homenagem, porque sem ele não “tinha” existido o DIEESE; Remo Forli, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos – eram os dois maiores sindicatos na época, os mais combativos eram esses dois; nós, do Laticínio, que não era numericamente tão expressivo, mas politicamente era peso-pesado; enfim, nós somamos cinco sindicatos e começamos a trabalhar dia e noite. Mas era até meia-noite, uma hora, duas horas da manhã, elaborando, pesquisando, estudando, e um dos homens-chave nisso aí se chama – foi este que já falei - Salvador Romano Lossaco, que não era do Partido Comunista, era um anarquista nato, mas de uma fidelidade de classe e de uma competência para ficar do nosso lado, que era impressionante.

Nós fundamos o DIEESE. Fundamos o DIEESE e pusemos: Departamento Intersindical de Estudos de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Antes era só Departamento Intersindical de Estatística. Aí um jornalista chamado Xavier Toledo - que era um jornalista do Correio Paulistano que trabalhava na Câmara e que acompanhava a gente, era um simpatizante - disse: “Olha, vocês têm que acrescentar, à ‘Estatística’, ‘Estatística e Estudos Socioeconômicos’, porque vocês abrem a perspectiva de se tornarem um instituto.” E nós incorporamos essa sugestão, ficou DI-E-ESE. Foi um negócio muito bonito, uma vitória grande.”

O depoimento continua e é muito bonito, como são bonitas as dezenas de histórias contadas e disponíveis em www.dieese.org.br (dieese memória).

O tempo passou, levado também pelo vento das lutas. As notícias da atual arena repetem manchetes. Hoje, como dantes, sintonizados com o presente e coetâneos com os desafios de futuro, quando o DIEESE completa 59 anos, rendemos nossa homenagem aos milhares de tenorinhos, leninas, salvadores e mônicas, que construíram com seu trabalho militante e compromisso com a justiça e solidariedade, uma instituição a serviço da classe trabalhadora!

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[1] Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES - Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

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